SEM FORMAÇÃO NÃO HÁ INCLUSÃO

 


Realidade em sala de aula revela docentes desamparados, gestores que não priorizam a educação inclusiva e, o mais grave, estudantes prejudicados pedagogicamente. Conheça caminhos para esse dilema.


Mesmo em tempos de pandemia, com o fim das atividades presenciais, a professora da rede municipal de Guaratinguetá, SP, Aline Anne de Paiva conseguiu desenvolver exercícios amparados pela neuropsicopedagogia com seus alunos com deficiência. “Trabalhamos memória, linguagem, pensamentos e raciocínio”, relata. 

Em Ilhabela, no litoral norte paulistano, as matrículas de novos estudantes com deficiências ou transtornos no ensino fundamental 1, em pleno período do isolamento social, não impediu uma análise cuidadosa, conduzida pela docente Cristiane Fonseca. “Fiz uma avaliação dos alunos com deficiências que eu tinha para atendimento, realizei anamnese online com os pais, os quais pude conhecer e deles me aproximar de uma forma tranquila e amigável”, conta. 

Os dois casos narram adaptação e aprofundamento nas relações de ensino para com as crianças com deficiência. Mas, infelizmente, compõem uma situação de exceção. O que se nota nas salas de aula do país são quadros distantes dos que iniciam esta reportagem. Inclusão nas escolas Sem formação, não há inclusão A educação inclusiva baseia-se no modelo no qual toda criança, qualquer que seja seu impedimento de longa duração de natureza física, intelectual ou sensorial, deve ser matriculada nas escolas do ensino regular. 

O aluno chega à rede escolar com sua deficiência ou transtorno identificados, passa a fazer parte de uma sala regular, onde tem direito à segunda matrícula para o atendimento no contraturno, realizado por um professor especializado, que vai elaborar o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) e acompanhar o seu processo pedagógico. Esse acompanhamento recebe o nome de Atendimento Educacional Especializado (AEE). 

Em alguns municípios, semanalmente, há um atendimento suplementar, de caráter clínico, dando o suporte necessário ao pedagógico, com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros. Se por um lado a legislação e as diretrizes relatadas oferecem boa estrutura de acolhimento, por outro, o que se nota no dia a dia das redes ao redor do Brasil é uma diversidade de propostas, que tende a destoar um pouco desse cenário. “Sem formação, não há inclusão: se o professor não está formado, ele não sabe como enfrentar o desafio em sala de aula, pois a cada ano recebe uma criança com transtorno ou deficiência diferentes, às vezes mais que uma por turma”, explica a CEO da Foccus – Educação e Tecnologia, Stelita Paes. 



Sensibilizar Gestores 

Na opinião de Paes, preparar o corpo docente para a educação inclusiva passa, obrigatoriamente, pela sensibilização de quem está à frente dos órgãos municipais. “É preciso que o secretário de Educação e sua equipe mudem o olhar para esse tema – afinal, o que temos visto é que ele costuma ser uma das últimas preocupações dos gestores”, lamenta. Garantir a vaga não basta, pois a falta de subsídios voltados à formação continuada para esses profissionais, comenta, chega a causar incômodo, pois torna sensível o cotidiano em sala de aula – seja para a criança com deficiência, seja aos demais colegas de sala e até mesmo entre os educadores. 

Formação híbrida e foco na prática 

Desde 2018, a Foccus – Educação e Tecnologia tem oferecido aos professores, em especial das redes municipais de ensino, formação em 11 temas, que compreendem todos os transtornos e deficiências. “O diferencial é privilegiar a prática: apesar de apresentar os fundamentos teóricos básicos, o objetivo é dotar esse professor de instrumentos e estratégias para poder avaliar as especificidades de cada aluno, flexibilizar ou adaptar um currículo, uma atividade”, comenta a sócia-fundadora, ressaltando exemplos como a construção de atividades e jogos, utilizando recursos simples, como materiais reciclados: caixa de ovos, tampinhas de garrafa, espuma, EVA, tecido, lixa, isopor etc. 

A formação é feita in loco, usando as salas de aula nas escolas municipais. O modelo prevê quatro horas presenciais e um aprofundamento em uma plataforma EAD, desenvolvida exclusivamente para a instituição – na pandemia, foi 100% virtual. 


JOGOS PEDAGÓGICOS PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA

O primeiro da série é o Libras+, jogo de cartas desenvolvido, ilustrado e revisado por equipes de especialistas na área, inclusive com um professor surdo. 



Com recurso em vídeo-tutorial e direcionado à inclusão total, o jogo é voltado não apenas à criança com deficiência, mas para todos os colegas e profissionais. 

A proposta foca o ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), o ensino regular e deve ser utilizado como estímulo nos momentos de Atendimento Educacional Especializado (AEESurdez). 

Matéria apresentada por Revista Educação, para conferir toda a edição acesse o link: https://revistaeducacao.com.br

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